Quantos seguem o exemplo de Francisco?
Luigi
Accattoli
Religión
Digital
16-11-2016
“Se o mal é contagioso, o bem também o é”:
pastores com o “cheiro das ovelhas”
Este é um lema do Papa
Bergoglio (Ângelus de 15 de fevereiro de 2015). Com
ele intitulo a minha segunda contribuição sobre “o contágio” de Francisco. Publiquei, no mês de novembro passado,
as perguntas e as respostas que fiz (e obtive) com os moradores e comerciantes
do Bairro Monti (Roma), onde moro. E
também aquelas que fiz a mim mesmo e àqueles que visitam o meu blog. A partir
disso, penso ter chegado a uma preocupante conclusão: há muito entusiasmo verbal, mas poucos fatos.
Nesta
segunda contribuição avalio o “contágio”
de Francisco nos bispos e nos sacerdotes. Parto dos bispos: neste coletivo o entusiasmo com suas palavras é menor,
muito baixo. Espero que, por uma
espécie de lei da compensação, sejam muito mais fortes nos fatos. Preciso
averiguá-lo. Para isso, centrarei a minha atenção, primeiramente, nos fatos, e
em seguida, em um momento posterior, voltarei sobre a hipótese que preside
estas linhas.
DOM DOMENICO SIGALINI Bispo Diocesano de Palestrina - Itália |
Moro
uma semana em cada paróquia
Nas
viagens que faço para dar conferências, pude escutar agradecimentos e elogios
de muitos cristãos comuns pelo Papa Francisco. E também as reservas de alguns
padres. No entanto, creio que os bispos
que “questionam” este pontificado são proporcionalmente em número muito maior
que os sacerdotes.
Como
está claro, não faltam aqueles que estão
entusiasmados e procedem em conformidade com este entusiasmo. Em todo o
caso, interessam-me mais os bispos que prestam atenção aos fatos e não tanto às
palavras e aos discursos. O Papa
argentino exerce realmente alguma influência sobre os nossos bispos? Em
caso afirmativo, qual é a o sentido desta influência?
Chama-me
muito a atenção do caso de Domenico
Sigalini, bispo de Palestrina,
pelas decisões que tomou no que se refere à moradia:
“Há alguns anos, eu não moro mais no
palácio episcopal, mas em diferentes casas que me são postas à disposição pelos
padres ou fiéis. Nos últimos 19 meses, eu morei em 18 municípios, dois terços
da diocese, morando em cada um deles durante um mês. Queria conhecer a
geografia e a população, tocar as diversas situações. Agora, estou fazendo a
mesma coisa com a visita pastoral: fico uma semana em cada uma das 40
paróquias. Sempre celebro ou concelebro ali e faço uma breve homilia todas as manhãs.
Assim, posso conhecer as pessoas, ouvi-las, falar com elas com o coração na
mão; sem nenhum limite. Agindo desta maneira, penso ter encontrado um modo de
estar perto das pessoas. Àquelas pessoas que têm pena de mim, digo que para
viver basta ter um quarto. A realidade é que todos são generosos hospedando-me
e me tratam muito bem”.
Não
faltará quem diga: para o bispo Sigalini as coisas são fáceis, porque Palestrina é uma diocese pequena. É
verdade: trata-se de uma diocese suburbicária, isto é, localizada em subúrbios
de Roma, com apenas 114 mil habitantes.
Mas
também encontrei uma relação semelhante com os fiéis no bispo de uma grande
diocese: Franco Giulio Brambilla, de
Novara: 564 mil habitantes em um
território muito vasto.
Brambilla,
uma vez terminado o Sínodo diocesano,
colocou em prática uma vista pastoral “residencial” que prevê uma permanência
dele durante dois meses – 60 dias distribuídos em três etapas – em cada um dos oito vicariatos [regiões
pastorais nas quais a diocese se divide], de modo que possa encontrar-se com os
responsáveis pela pastoral, com todos os sacerdotes e leigos que o queiram e
com todos os animadores das unidades pastorais. Uma escolha, disse-me Franco
Giulio, “que visa conhecer diretamente,
‘in loco’, cada uma das pessoas e cada situação em sua singularidade”.
Eu
conheço há muito tempo tanto Sigalini como Brambilla e vejo neles bispos que,
segundo o Papa Francisco, “têm cheiro de
ovelha”, quer tenham poucas ou muitas ovelhas.
Semelhante
à escolha de Sigalini, no que diz respeito à moradia e à celebração matinal, é
a diocese do novo arcebispo de Bolonha,
Matteo Zuppi: hospeda-se em uma
residência sacerdotal, na Rua Barberia
– onde tem um pequeno quarto, no mesmo andar em que moram três bispos
auxiliares eméritos – e celebra todas as manhãs, inclusive com homilia, no
altar do Sacramento na Catedral.
DOM MATTEO ZUPPI Arcebispo de Bolonha - Itália |
A
moradia e a missa com homilia
Para
o lugar de Zuppi, no setor Centro de Roma, foi chamado Gianrico Ruzza, pároco de São Roberto Bellarmino, a igreja romana
da qual foi titular o cardeal Bergoglio: está
em busca de uma moradia que o mantenha em contato com as pessoas e estuda
como poder ser bispo auxiliar no mundo
dos jovens. Vamos ver o que vai decidir.
O
Centro também é o meu setor, e me considero um bom amigo de Zuppi e já o sou de Ruzza que me chamou, certa vez, para
falar na Paróquia São Roberto sobre o Papa Francisco e me consultou sobre como
deveria ser a Pastoral da Juventude. Seguindo as iniciativas papais, Gianrico já tinha colocado em marcha em sua
antiga paróquia um serviço de chuveiros e um refeitório para os “sem teto”.
No
que diz respeito à moradia e missa diária, muito semelhante à escolha de Zuppi
é a do novo arcebispo de Trento, Lauro Tisis, antes vigário-geral desta
arquidiocese: “Vou continuar a morar onde
morei até agora”, disse no dia do anúncio da sua nomeação, ou seja, na residência do clero. Tisis também
decidiu ficar com o seu carro, rejeitando um carro melhor; e cada manhã celebra missa – com homilia –
para os universitários, na capela da cúria da arquidiocese.
No
que diz respeito à moradia, também devemos citar o bispo de Cesena-Sarsina, Douglas Regattieri, comprometido com a remodelação de sua residência para convertê-la em uma “casa de família”
da Comunidade Papa João XXIII. E está fazendo isso com explícita referência aos
convites de Francisco para
compartilhá-la com os pobres e sempre estar acessível, isto é, disponível
para receber e encontrar-se com quem o procure.
O modo e o lugar como moram
e a homilia matutina são os eixos vertebradores desta mini-pesquisa. Estou aberto a
recolher outras indicações de quem queira me ajudar a este respeito. Peço a
quem me ler que me dê uma mão para ampliar o campo de observação, indicando-me
que bispos se encontram, de fato, na longitude da onda proposta pelo Sucessor
de Pedro.
DOM LAURO TISIS Arcebispo de Trento - Itália |
Não
quero o título de “Excelência”
Interessam-me,
obviamente, também outros aspectos do “contágio”. Até aqui me referi a bispos
com os quais falei e de quem posso confirmar as declarações que fizeram e que
acabo de transcrever. Mas, tive a oportunidade de ler muitos outros sinais do
“contágio bergogliano” entre os nossos bispos, aos quais me refiro
seguidamente, e que, lidos nos jornais, na internet, ou que ouvi dizer, são,
simplesmente, falsos.
Este
seria o caso do cardeal Francesco
Montenegro de Agrigento que, viajando com uma vespa, falaria com
migrantes empregando a mesma linguagem evangélica do papa. A verdade é que
isto era algo que ele já fazia antes da chegada do Papa Francisco, e é muito
provável que tenha sido nomeado cardeal por esta proximidade de palavra e
fatos. E foi decisão sua que um grupo de
pobres o acompanhasse no dia da sua investidura.
O
mesmo se deve dizer do cardeal Edoardo
Menichelli, que conheço pessoalmente: continuou
usando o mesmo carro que antes de ser nomeado cardeal e é ele mesmo que o
dirige. Desde sempre, o padre Edoardo falou do acompanhamento das famílias
feridas com a mesma delicadeza com que o urgiu o papa que veio do “fim do
mundo”.
O
novo bispo de Pádua, Claudio Cipolla, sozinho, em seu
pequeno carro, percorre a vastíssima
diocese que preside para encontrar-se com cada um dos 774 presbíteros, além
dos religiosos e leigos que querem falar com ele.
O
recente arcebispo de Modena, Erio Castellucci, mora na cúria da arquidiocese com uma família de migrantes albaneses
e rejeita qualquer tipo de título: “Não quero, na medida do possível, ser
tratado como ‘Excelência’. Prefiro ser chamado pelo meu nome”, disse na homilia
de posse na diocese.
Seria
interessante saber como funciona este assunto do abandono dos títulos, já tentada há muito tempo pelo cardeal
Pellegrino, uma vez terminado o Concílio [Vaticano II], e ao qual estão mais
dispostos os bispos da América Latina que os nossos. O cardeal Bergoglio, em Buenos Aires, era para todos o “padre Jorge”. Aqui, só os amigos de antes
continuam a chamar pelo seu nome quem é ordenado bispo, mesmo que o eleito
prefira que todos o façam.
DOM LUIGI RENNA Bispo Diocesano de Cerignola-Ascoli Satriano em sua missa de ordenação episcopal |
Vende
o Opel Astra e constrói um dormitório
Também
gostaria de saber como estão, na vida cotidiana, os novos bispos ordenados nos
últimos meses e que, por exemplo, escolheram um báculo de madeira (Roberto Carboni, franciscano conventual
missionário em Cuba e agora prelado de Ales-Terralba);
ou aquele que anunciou que gostaria de continuar a viver em uma comunidade de
padres e não isolados no palácio episcopal (Renato Marangoni, padre paduano, nomeado bispo de Belluno); ou aquele que vendeu o carro
Opel Astra que lhe deram de presente quando fez sua entrada na diocese,
destinando o dinheiro arrecadado à construção de um dormitório para os sem teto
(Luigi Renna, bispo de Cerignola-Ascoli Satriano). O presente foi objeto de fortes polêmicas
e, igualmente, a decisão de vendê-lo. Conclusão: um bispo não deve prestar
atenção nas polêmicas nestas decisões pessoais.
O
que aconteceu com a proposta de
“compartilhar” o salário, formulada há dois anos pelo cardeal Gualtiero Bassetti aos trabalhadores da
cúria de Perugia, “para que, aqueles que ganham mais, estejam
dispostos, por razões éticas e de caridade, a receber menos neste momento de
dificuldades econômicas”?
No que deu a contribuição
voluntária do clero de toda a Itália para criar um fundo que facilitasse a
ocupação juvenil, proposta de que falou o arcebispo Giancarlo Bregantini?
GIUSEPPE BETORI Cardeal-arcebispo de Florença - Itália |
Assim
que você se move, jogam pedras em você
Eu não sou pessimista em
relação ao “contágio” dos nossos bispos às palavras e ao exemplo do papa. Tenho em mente as
dificuldades para assumi-lo, que talvez sejam maiores em lugares pequenos. E,
também, naqueles não tão pequenos. Assim
que você se move, jogam pedras em você: “Você quer estar no centro das atenções”; “você está deixando em maus lençóis o seu predecessor”; “você está querendo ser cardeal pela via
rápida”.
Bastam
estas palavras do cardeal Giuseppe
Betori sobre a dificuldade de seguir o papa em sua proximidade com as
ovelhas, quando o hospedou em Florença
em novembro passado:
“Eu o acompanhei todo o dia e fiquei
admirado com a sua dedicação a todos, crianças, idosos, pobres, doentes,
detentos. As pessoas gostam de um homem com estas características, mas nós
pastores temos um problema: o nível do exemplo a seguir ficou muito alto”.
Traduzido do espanhol por André
Langer. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.
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