«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O futuro do catolicismo

Uma Igreja menor composta e fora do “mundo”?

Massimo Faggioli
Professor da Villanova University, nos Estado Unidos
La Croix International
31-10-2016
MASSIMO FAGGIOLI

Um dos debates correntes no catolicismo ocidental atual diz respeito ao papel e à posição da Igreja.

A Igreja Católica tem sido sempre um dos principais membros do sistema social, político e cultural do hemisfério ocidental. Mas hoje alguns católicos são tentados a resolver as diversidades internas da Igreja e sua luta contra a secularização deixando para trás esse status. Essas pessoas querem uma Igreja menor, com um posicionamento externo à organização política, social e cultural do mundo ocidental. [Este é um grande risco! Tornarmo-nos uma seita, um grupo muito compacto, zeloso, fiel, mas exclusivo para poucos e “ bons”!]

Isto é particularmente visível nos Estados Unidos, onde a candidatura presidencial de Donald Trump e a crise intelectual e política da direita religiosa é um subconjunto da crise da liderança clerical e intelectual da Igreja Católica institucional.
CHARLES CHAPUT
Arcebispo da Filadélfia nos Estados Unidos

Somente nestes últimos dias, percebemos claramente diferentes visões entre diversos líderes católicos norte-americanos sobre a posição da Igreja em relação ao mundo exterior.
Um dos mais notáveis, o arcebispo Charles Chaput da Filadélfia, disse, recentemente: "nós nunca precisaremos temer uma Igreja menor e mais leve se os seus membros também forem mais fiéis, mais zelosos, mais missionários e mais comprometidos com a santidade".

Em uma fala na Universidade de Notre Dame, no dia 19 de outubro, ele disse: "Perder pessoas que só constam como membros da Igreja é uma perda imaginária. Pode ser até mais honesto para quem sai e mais saudável para quem fica".

Alguns dias depois, o presidente da universidade, Reverendo John Jenkins, CSC, respondeu ao arcebispo em uma entrevista à Commonweal. Ele afirmou que, dentre outras coisas, "nós só devemos temer que a Igreja seja menor devido à incapacidade de acolher as pessoas e pregar o Evangelho de uma forma que toque seus corações". 
ROBERT LYNCH
Bispo de St. Petersburg - Flórida (Estados Unidos)

O bispo Robert Lynch, de St. Petersburg (Flórida), também discordou de Chaput.
"Esta ideia [de uma Igreja menor] era um conceito silencioso e reservado que havia silenciosa e secretamente surgido no final dos anos oitenta e noventa, originado por alguns bispos norte-americanos que trabalhavam em Roma. Agora, parece-me que a estratégia foi articulada publicamente", escreveu o bispo em seu blog.

"Eu estava horrorizado quando eu ouvi falar sobre isso pela primeira vez, décadas atrás, e estou mais ainda agora, porque parece para mim que a visão pastoral do Papa Francisco, que eu acho tão desafiadora e excitante, está sendo rejeitada", disse Lynch.

Mas a Igreja Católica nos Estados Unidos não é a única no mundo onde este debate é intenso. Bispos da França recentemente emitiram uma importante carta em prol de uma redescoberta do sentido da política, e até mesmo da laicidade (secularidade). Os bispos escreveram que "o Estado laico [laïcité de l'État] é um marco jurídico que nos permite que vivamos juntos, entre crentes de qualquer religião ou não".

Enquanto isso, na Itália, intelectuais secularistas vêm pedindo à Igreja há décadas para que não intervenha em todos os assuntos sociais e políticos (como, por exemplo, a colunista Michele Serra, do jornal de esquerda La Repubblica). Mas agora eles estão pedindo que a Igreja apele para a alma do povo italiano, a fim de ajudar o governo a lidar com a crise dos refugiados.
Livro publicado pela Editora Unisinos
São Leopoldo - RS

Como disse Charles Taylor em seu livro fundamental, Uma era secular, (Editora Unisinos, São Leopoldo, 2010) todos nós somos neo-durkheimianos". Ou seja, depois do 11 de setembro, temos uma tendência a ver na Igreja um pilar da civilização ocidental.

É interessante que, na última década, depois que Taylor escreveu essas palavras, o pontificado do Papa Francisco tenha aumentado a distância entre a visão de futuro da liderança católica europeia e norte-americana. Na verdade, o Papa acelerou de alguma forma as tendências neossectárias no episcopado católico norte-americano, que se esforça para receber sua eclesiologia.

A eclesiologia e a visão de laicidade do Papa Francisco estão muito mais próximas às dos bispos da França do que dos bispos dos Estados Unidos. É impensável imaginar bispos norte-americanos pedindo mais laicidade nos Estados Unidos. E isso não é apenas um problema do estilo ou do tipo de relacionamento com o governo secular, mas também da eclesiologia - isto é, sobre que tipo de comunidade cristã a Igreja Católica quer ser no futuro próximo.

Líderes católicos que defendem uma Igreja menor e um refúgio longe da praça pública estão presos entre dois impulsos diferentes e contraditórios.

Por um lado, querem manter o papel da Igreja como um pilar da organização moral, cultural e política norte-americana como uma versão transatlântica atrasada da cristandade medieval, especialmente após a crise do protestantismo dominante nos Estados Unidos.

Por outro, eles mostram profundo descontentamento e pânico sobre o colapso dos alinhamentos político-religiosos no país entre conservadorismo religioso, a "direita religiosa" e o Partido Republicano. Este colapso leva alguns líderes católicos e formadores de opinião norte-americanos a darem um ponto final nisso.

Existem várias versões deste sonho. A "opção Bento" (advinda do Papa Bento XVI) é apenas uma delas.

Há também uma versão teologicamente mais sofisticada, radicalmente de esquerda, que é popular entre alguns dos estudantes católicos do teólogo moral metodista Stanley Hauerwas. É a tentativa ansiosa de reconciliar o sectarismo e o catolicismo, que o Papa Francisco tem considerado incompatíveis. Ele disse isso recentemente, em uma entrevista à revista jesuíta da Suécia, publicada poucos dias antes de sua viagem para uma comemoração ecumênica conjunta do início da Reforma esta semana. 
PAPA FRANCISCO
Não teme o mundo presente, a modernidade, mas deseja uma Igreja aberta, que vai
atrás de todos e marca presença em todos os ambientes:
na economia, na política, nas ações sociais e humanitárias, na educação etc.

Há uma contradição entre a ideologia do cristianismo como um pilar moral da nação e os impulsos neossectários. Mas este é apenas o lado intelectual do problema.
Há também um problema moral com o sectarismo católico. Deixar-se levar pela tentação do sectarismo daria à Igreja a ilusão de estar de fora do sistema norte-americano, assim como outros “outsiders” estão. No entanto, o catolicismo não está na mesma situação que o Islã nos Estados Unidos, para citar um exemplo de quem realmente está “de fora”.

Em outras palavras, um catolicismo posicionado, dentro da sistemática existente, não somente está em uma situação muito diferente dos “outsiders” [os e fora] reais, mas também tem responsabilidades morais para com eles (por exemplo, quando a sua liberdade religiosa está ameaçada).

Cair na tentação de pensar sobre o catolicismo no mundo ocidental como quem está “de fora” seria um álibi fraco, constituindo apenas uma outra maneira de fugir de nossas responsabilidades terrenas, o que também traria graves consequências internas.

Tornaria a Igreja menos responsável pelo futuro do nosso mundo, bem como pelos erros do passado. Seria uma Igreja mais clerical. A Igreja, então, estaria menos sensível ao chamado para ser mais inclusiva, de acordo com a mensagem de Jesus no Evangelho. E faria com que nos esquecêssemos do quanto a Igreja aprendeu com o mundo exterior sobre como ser católica.

Este é apenas um exemplo: foi uma tradição política secular e moderna de liberdade religiosa que levou a Igreja Católica, há apenas 50 anos, a redescobrir as palavras de Jesus de que "a resposta a Deus na fé deve ser livre" (Vaticano II, Dignitatis Humanae, 07 de dezembro de 1965, par. 10).

O Catolicismo não necessariamente tem de ser um “insider”, membro participante dessa organização, para ser católico. Há muitos casos em que a Igreja Católica em todo o mundo nos mostrou como ser católica sendo uma pequena minoria.

Mas uma conversão radical do Catolicismo Ocidental a uma situação de estar de fora, ser um estranho, em diáspora, teria consequências que eu suspeito que a maioria de nós (incluindo os bispos que estão discutindo uma Igreja menor) não podemos sequer imaginar. Considerando o que é a Igreja Católica no mundo ocidental de hoje, este retrocesso radical pode torná-la menos fiel ao Evangelho, e não mais.

Traduzido do inglês por Luísa Flores Somavilla. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 1 de novembro de 2016 – Internet: clique aqui.

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