Jovens: os mais vulneráveis com a crise
Um em cada cinco jovens na América Latina
não estuda nem trabalha
Carlos E. Cué
São 32 milhões de jovens latino-americanos entre 15 e
29 anos,
um em cada cinco, que não estudam nem trabalham
A
economia latino-americana viveu uma década de ouro, que incorporou milhões de
pessoas à classe média, que passou de 21% da sociedade para 35%. Mas os jovens
dessa região não se beneficiaram tanto quanto era esperado. Agora além do mais estão em uma situação muito vulnerável por
causa da crise que enfrenta essa área do planeta com a queda do preço das
matérias-primas. São 32 milhões de jovens latino-americanos entre 15 e 29 anos,
um em cada cinco, que não estudam nem
trabalham, de acordo com o relatório Perspectivas Econômicas da América Latina,
da OCDE.
A pobreza e a marginalização
se alimentam especialmente com essa geração, de acordo com o relatório, publicado no
contexto da 25ª Cúpula Ibero-americana em Cartagena de las Índias (Colômbia).
Cerca de 64% dos jovens latino-americanos vivem em lares pobres e vulneráveis.
A
América Latina foi, nos últimos anos, uma das grandes promessas do planeta. Um
crescimento sustentado na maioria dos países, graças ao aumento do preço das
matérias-primas, e políticas de inclusão da era dourada da esquerda fizeram com
que o mundo olhasse para essa região com enormes expectativas. A classe média aumentou, nasceram polos
empresariais, cresceu o comércio e milhões de pessoas saíram da pobreza
enquanto se expandia significativamente a cobertura da saúde pública e da
educação. Mas o ponto de partida era tão baixo, a desigualdade tão forte,
que o primeiro vento contrário, com uma desaceleração da economia
latino-americana nos últimos cinco anos que agora já é claramente uma recessão, com dois anos de queda do PIB
regional pela primeira vez desde a década de oitenta, pode destruir a maior
parte dessas conquistas. E o bloco mais
vulnerável parece ser a juventude, de acordo com o relatório da OCDE que se
especializou em analisar a situação desse grupo.
Crise
das expectativas
Todos
os dados analisados indicam a mesma coisa: a saída do desastre latino-americano
dos anos oitenta e parte da década dos noventa diminuiu abruptamente quando
ainda não tinha chegado a um ritmo suficiente para tirar a região de seu atraso
em relação aos países mais avançados. A América
Latina tem uma grande vantagem sobre a Europa, os Estados Unidos e outras
regiões mais desenvolvidas: é muito jovem. Um
quarto da população tem entre 15 e 29 anos. No entanto:
* as carências na educação,
* formação profissional e
* a desigualdade e falta de oportunidades em vastas áreas da região, especialmente
nas periferias das grandes cidades, colocam em risco essa vantagem.
As
conquistas até agora têm sido importantes, segundo o relatório. Mas não são
suficientes. Entre 2000 e 2015 caiu de
42% para 23% a proporção de latino-americanos com menos de quatro dólares
disponíveis por dia. Isso é causado por melhores salários, mais empregos e
mais transferências. Mas em 2015, tudo
isso foi truncado e sete milhões de pessoas caíram de volta na pobreza. Já há 175 milhões de pobres, 29,2% da
população, e outras 25 ou 30 milhões de pessoas estão em risco de cair nela
se a recessão continuar.
Isso
está afetando especialmente os jovens, que estão sofrendo com uma enorme crise
de expectativas. O relatório também detalha um dado inquietante já observado no
Latinobarómetro, a principal pesquisa
regional com mais de 20.000 entrevistas. “A
desconexão profunda entre suas expectativas e demandas e a realidade está
alimentando o descontentamento social e debilitando a confiança nas
instituições democráticas. O resultado é que apenas um em cada três jovens confia nos processos eleitorais na
América Latina e no Caribe”, diz o texto.
O
principal problema é a desconexão dos jovens que abandonam a escola com o mundo
do emprego formal, que nunca alcançam. “Os jovens procedentes de lares pobres e
vulneráveis abandonam a escola antes que seus pares de lares acomodados e,
quando trabalham, geralmente é em empregos informais. Com 15 anos, quase 70%
dos jovens de famílias pobres estão estudando, enquanto que com a idade de 29, três de cada 10 nem
estuda, nem trabalha. Outros quatro trabalham no setor informal, apenas
dois trabalham no setor formal e um é estudante trabalhador ou estudante”, diz
o estudo.
Cobertura
da educação ainda é insuficiente
A
expansão da cobertura educativa nos últimos anos melhorou a situação, mas não o
suficiente: “Apesar do progresso notável na educação durante a última década, menos de um terço dos jovens
latino-americanos com idade entre 25 e 29 anos recebeu alguma educação em
faculdades, universidades e institutos técnicos de nível superior. Um terço
dos jovens – 43 milhões – não completou o ensino secundário e não
está sendo escolarizado”. [Sem educação e
especialização, a esperança de ascensão social e melhoria de vida é frustrada!]
A
educação técnica tampouco avança. “A
América Latina exibe a maior diferença do mundo entre a oferta disponível de
competências e as demandadas pelas empresas”, explica o estudo.
A
América Latina avançou muito nos últimos anos, mas o risco de estagnação e
retrocesso é enorme, embora os especialistas estejam confiantes de que a
situação econômica vai melhorar em 2017. Os jovens aguardam ansiosamente uma
resposta.
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